Começamos mal, ou o passado nos condena?

Começamos mal, ou o passado nos condena?


Os historiadores Ida Lewkowicz, Horacio Gutiérrez e Manolo Florentino iniciam seu livro Trabalho compulsório e trabalho livre na história do Brasil lembrando que "o trabalho no período colonial no Brasil pautou-se por modalidades compulsórias, sendo a escravidão a principal e a mais cruenta de todas". Tudo começou quando a população que habitava a terra foi capturada pelos portugueses, que aqui aportaram em 1500, para trabalhar na extração do pau-brasil que seria vendido no mercado internacional. Os nativos povos diferentes, que os portugueses chamaram genericamente de índios - foram, portanto, as primeiras cobaias dessa forma compulsória, obrigatória, de trabalhar. Posteriormente, as tentativas de aprisionamento e escravização dessas populações tiveram como meta o cultivo da cana-de-açúcar. Era um trabalho pesado, desgastante, e, segundo nossos historiadores, ''considerado feminino"  contra o qual os índios se rebelaram.

Os hábitos europeus de trabalho se chocavam brutalmente com as duas culturas nativas. Mas a partir de meados do século XVI, os colonizadores contaram com a providencial ajuda dos religiosos, que estavam empenhados na conversão dos índios à fé cristã. Nessa campanha de reeducação cabia também o treinamento para novos hábitos de vida e de trabalho, ou seja, para comportamentos mais afinados com os costumes europeus. Tentou-se, assim, criar um campesinato indígena. Segundo os dados dos religiosos, em 1600 mais de 50 mil índios viviam em aldeamentos voltados para o trabalho no campo. Imagine quão violento deve ter sido o contato dos nativos com o colonizador mais forte, que chegou impondo hábitos totalmente estranhos! No sul da colônia, os índios que tentavam escapar dos espanhóis foram acolhidos pelos jesuítas Mas não conseguiram escapar dos bandeirantes paulistas, que aprisionaram milhares deles e os conduziram ao cativeiro em marchas forçadas, durante as quais morriam crianças e adultos pela dureza das caminhadas.

As capturas de nativos se espalharam em todas as direções, a ponto de o antropólogo Carlos Fausto afirmar que, no seculo que se seguiu à chegada dos portugueses à America, houve um verdadeiro "repovoamento" do território. Os nativos foram substituídos por outros grupos, porque foram dizimados aos milhares. A historia do trabalho na colonia teve um começo cruel que prosseguiu com mais sofrimento. Aos índios seguiram-se os negros africanos, que já vieram escravizados de seus continentes de origem.