A Sociologia e o mundo do trabalho
Você já foi apresentado a um sociólogo para quem o mundo do trabalho era elemento precioso para o entendimento da sociedade. Emile Durkheim, sociólogo francês do final do século XIX, ao observar a vida social de seu tempo, deu-se conta do quanto ela havia sido modificada pelas novas formas de produzir bens. Para ele, era no ambiente das fábricas, das corporações, do trabalho, enfim, onde os homens e as mulheres passavam a maior parte do seu tempo, que eles aprendiam a se relacionar com seus oficios e com as pessoas com as quais conviviam. Por isso mesmo Durkheim considerava que um bom caminho para conhecer essas relações era prestar atenção a esses ambientes. O que as pessoas faziam ali? Só cumpriam tarefas? Ou interagiam umas com as outras?
Da mesma forma, nós também podemos nos perguntar: onde passamos a maior parte do nosso tempo? O que fazemos com nossos dias? Como nos ocupamos e onde estamos quando estamos ocupados? Essas perguntas mobilizam muito as pessoas na nossa sociedade. "O que você quer ser quando crescer?" acabou sendo uma maneira corriqueira de perguntar às crianças como elas se imaginam quando ficarem adultas. Mas é também uma maneira de pôr na cabeça das crianças que elas devem se imaginar em alguma ocupação, cumprindo alguma tarefa, trabalhando em algum lugar. A pergunta indica que fazer parte da sociedade é estar inserido em alguma atividade produtiva.
A sociedade urbana criou uma diversidade de ocupações e de espaços onde se pode trabalhar. Como vimos com Durkheim, se os trabalhadores passam a maior parte do seu tempo no local de trabalho, eles têm de aprender ali o que podem ou não podem fazer, o que devem fazer, que atitude se espera deles, como devem conviver com os que estão a seu lado. Alguns são chefes, outros, subordinados, outros, ainda, colegas na mesma posição. O que interessava a Durkheim ao observar esse tipo de ambiente era perceber ali a sociedade que estava em funcionamento. Como ele identificava essa sociedade? Pelas regras, normas e orientações definidas para que todos soubessem como deveriam proceder e como seriam punidos caso não respeitassem o que fora estipulado. Conhecendo as regras do mundo do trabalho, seria possível entrar em contato com a moralidade que dirigia o comportamento das pessoas. Boa pista para se perceber como a sociedade funciona.
Acontece que nem sempre todas as pessoas têm trabalho, e nem todas, mesmo trabalhando, o fazem em lugares fixos. Fala-se muito no Brasil em "trabalho formal" e "trabalho informal". O trabalho formal é aquele que é regulado por regras precisas: carteira assinada, numero preestabelecido de horas de trabalho, salário correspondente, direito a férias e ao 13º salário, pagamento de impostos e da contribuição para a Previdência Social com vistas à aposentadoria. Mas, no Brasil, existe um número grande de jovens e adultos que estão fora desse ambiente formal. Segundo o IBGE, em 2005, 47,2% da população ocupada tinha trabalho formal, o que significa que os 52,8% restantes ocupavam-se em trabalhos informais.
Quando entramos no universo do trabalho, percebemos que muitas questões estão em jogo: oportunidades abertas no mercado, condições de trabalho, respeito aos direitos do trabalhador. Nada disso é natural, surgiu espontaneamente, ou é realidade no país como um todo. Os direitos que os trabalhadores adquiriram foram conquistas históricas. Mas essas conquistas nem sempre foram respeitadas em todos os lugares ou da mesma maneira.