Quando a Liberdade e ameaçada

Quando a Liberdade é ameaçada

Tocqueville acompanhou de perto os efeitos da Revolução Francesa, que em 1789 pôs fim ao regime monárquico e inaugurou a Republica na França. O documento mais importante desse movimento histórico foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, conhecida como o certificado de nascimento da democracia moderna. Seu primeiro artigo correu mundo: "Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos.  As distinções sociais só podem basear-se no bem comum". Os princípios que nortearam a Declaração alteraram profundamente a tradição das monarquias espalhadas por todo o continente europeu. Duas ideias, sobre tudo, revolucionaram os costumes e deixaram inquietações: a de que alguém pode nascer pobre e mudar sua posição na sociedade (e de que o contrário também é válido, ou seja, os privilégios não são garantidos de antemão), e a de que os governantes podem e devem ser escolhidos pelo povo.

  O que mais impressionou Tocqueville em relação à Revolução Francesa foi a violência com que ela se deu Por que uma revolução que defendia a liberdade, a igualdade e a fraternidade levou ao Terror? Lutar pelo ideal de igualdade pode levar à violência? O desejo de liberdade pode resultar no seu contrário? Em que condições a luta pela liberdade e a igualdade leva à violência ou à tirania?  Por que é tão difícil garantir a liberdade? O que fazer para preservá-la? O que vale mais, a liberdade ou a igualdade? Combinar os ideais de igualdade e liberdade transformou-se na obsessão de Tocqueville, uma obsessão que apareceu em todos os livros que escreveu e que teve sua origem na história de seu próprio país. E foi por aparecer com tanta frequência em toda a sua obra que a desafiante combinação de igualdade com liberdade acabou sendo batizada como o "dilema tocquevilliano".

A sensibilidade de Tocqueville para o dilema que foi batizado com seu nome, e que constitui um grande desafio da democracia moderna, certamente não nasceu de informações recolhidas nos livros ou nos jornais. Sua família viveu aquele momento, e alguns membros, como seu avô, o Marquês de Rosanbo, não escaparam da guilhotina. Seus pais só não foram mortos porque em 1794 morreu Robespierre, o líder político que comandava o regime responsável pelas execuções. Talvez sua vivência familiar esteja na origem de seu interesse.