O novo mundo e o sonho da liberdade

O Novo Mundo e o sonho da liberdade 

Os temas da liberdade e da igualdade entre homens e mulheres levaram Tocqueville a fazer uma viagem que ficou famosa, com destino ex-colonia americana da Inglaterra, que alcançara sua independência em 1776 e adotara o nome de Estados Unidos da América. Se a Franca tinha feito sua Revolução em 1789, os Estados Unidos haviam antecipado em treze anos um projeto revolucionário que também tinha como bandeira a
democracia, a liberdade e a igualdade. E mais: parecia que aquele pais tinha realmente encontrado a formula de como associar igualdade de condições com liberdade de ação e expressão. Certamente, era isso que chamava tanto a atenção dos franceses.

A decisão de Tocqueville de visitar a América tinha um objetivo especifico: conhecer a organização das prisões. Afinal, a jovem nação era muito falada pela experiencia da democracia, dos direitos civis, da liberdade veria la algo que pudesse ajudar a Franca a reformar seu Sistema prisional Nos nove meses que passou em viagem pelos Estados Unidos da América durante o ano de 1830,  junto com seu amigo Beaumont,  Tocqueville fez anotações sobre as prisões, mas não apenas sobre elas. Registrou com riqueza de detalhes todos os aspectos da vida no pais. Fez um relatório completo e nele esmiuçou como os americanos professavam suas crenças religiosas, por que caminho escolhiam seus representantes, de que maneira defendiam seus interesses nas associações, como se organizavam na vida cotidiana,  com que gosto ou indiferença olhavam para a arte, como se comportavam diante da comida,  de que maneira eram educados, em que aspectos eram nudes, entre muitas outras observações.


A democracia da América era única no mundo, e Tocqueville queria saber qual era a formula daquele sucesso. No fundo, sua pergunta era: como é possivel organizar uma sociedade em que a maioria pode participar e decidir sobre seu destino? O relato de sua viagem, que foi publicado em 1835 com o título A democracia na América,ficou famoso e até hoje é um livro fundamental para quem se interessa pela historia dos Estados Unidos, pela democracia e pela cultura democrática. Alias, ha outro livro famoso, de outro autor de que você já ouviu falar, que tambem foi escrito apos uma viagem aos Estados Unidos: A ética protestante e o"espirito"  do capitalismo. Max Weber esteve nos Estados Unidos em 1904, 74 anos depois de Tocqueville e escreveu essa importante obra igual mente inspirado no que tinha percebido naquela sociedade onde o capitalismo florescia em ritmo acelerado.


Na percepção de Tocqueville, a sociedade americana nasceu sob o sinal da liberdade. Os colonos vindos da Inglaterra fugiam da repressão religiosa em seu pais de origem. "Foi a paixão religiosa que levou os puritanos para a América e la os levou a desejar governar a si próprios."  Quando disse isso, Tocqueville quis dizer duas coisas: primeiro, que a liberdade de crença e de pensamento sempre fez parte da historia que os americanos contam para eles mesmos e para o mundo,  querendo afirmar seu amor pela liberdade;  segundo,  que a sociedade americana, na medida em que deseja"governar-se a si própria", desenvolveu o individualismo como ideal e como pratica de vida.


Ora, Tocqueville também chama a atenção em seu livro para o fato de que eleições livres,  por si sós, não garantem que os que foram eleitos serão bons governantes. Não é uma advertência intrigante? Marx diz algo parecido quando critica a democracia burguesa e a acusa de estabelecer uma falsa equivalência entre o direito de voto e a real liberdade. Curiosamente, vamos encontrar no conservador Tocqueville alerta semelhante. Viver em liberdade é mais complicado,  parece nos dizer o aristocrata francês. A manutenção da liberdade exige atenção redobrada.  Por exemplo,  um dos mais importantes elementos da vida democrática é a imprensa livre. A imprensa livre tem a função de impedir o avanço de atos condenáveis quando os divulga e chama a atenção do publico para eles, mas isso não quer dizer que tudo que ela faz é bom. A frase de Tocqueville é clara: "Amo-a la imprensa livre)  mais por considerar os males que impede que pelo bem que faz".


Portanto, mais importante ou tao importante quanto obter a democracia é cuidar diariamente para que ela possa funcionar em beneficio da sociedade. Essa é uma das razoes pelas quais Tocqueville valoriza o conhecimento dos hábitos e costumes de uma sociedade,  ou seja, daqui lo que se aprende a gostar,  do que se ensina a observar, do que se proibi e do que se toma como direção de vida. Se as democracias partem de pontos comuns a liberdade de escolha dos representantes pelos representados, a liberdade de imprensa, de opinião,  de crença elas não funcionam da mesma maneira. As diferenças entre as sociedades produzem diferenças entre as formas que elas encontram de vivenciar o que entendem por democracia. Chegar a essas formas é um bom exercício de imaginação sociológica. E os usos e costumes de cada sociedade são ótimas pistas.  Essa era a aposta de Alexis de Tocqueville.