Ética e mercado

Ética e mercado

  Os seres humanos são naturalmente egoístas, e é a vida em sociedade que os obriga a respeitar os interesses alheios e as instituições. Aprendemos a nos comportar convivendo com nossa família, com nossos professores e colegas, com nossos vizinhos. Por isso mesmo, Durkheim acreditava fortemente que o bem-estar coletivo não pode vir da satisfação egoista dos interesses individuais. São as regras morais que podem garantir à sociedade um princípio de justiça. Referindo-se à ausência desses princípios na ordem económica, dizia ele: "Há, nessa exploração do homem pelo homem, algo que nos ofende e nos indigna".

  Se a família e a religião não são mais eficazes como instituições integradoras, pois os individuos passam grande parte de seu tempo longe delas, o que fazer? Segundo Durkheim, devemos voltar a atenção para o mercado de trabalho e de trocas. Afinal, é ali que homens e mulheres passam a maior parte do seu dia. E se todos independentemente de suas origens, credos ou riquezas precisam trocar bens e serviços para garantir sua sobrevivência, é ali que irão perceber mais claramente como é impossivel viver sem a cooperação de todos.

  O mercado, adverte Durkhe, precisa de uma ética que deverá ser mais forte do que a pura lógica económica. Deixado sem freio, sem regra, sem norma, o mercado não tem limite. Tudo se vende e tudo se compra, se houver quem compre. O papel de regulador da ética do mercado deveria ser desempenhado, nos sugere Durkheim, pelas corporações profissionais. Diferentemente dos sindicatos, nos quais se reunem patrões de um lado e empregados do outro, corporações unificariam as diferentes categorias interessadas no processo de produção. Dentro delas conviveriam tanto os "dirigentes" quanto os "executores".